
Paulo Nimer Pjota, 2019
Cenas de Casa
Realizada em parceria com Mendes Wood DM
Texto curatorial: Júlia Rebouças
Período expositivo: 24.08.2019 - 8.11.2019
Cenas de casa era o título que designava uma sessão do livro sobre natureza morta que Paulo Nimer Pjota estudava. A página estava marcada, as referências seguiam na sequência da publicação: composições com frutas, porcelanas, instrumentos musicais, cachimbos, caças, utensílios de cozinha, que iam sendo apresentadas junto ao caimento e à textura dos tecidos, os jogos de luz e sombra, os planos cruzados de mesas e superfícies que funcionam como base e fundo das cenas. Gênero clássico da pintura, não surpreende que o artista se debruçasse sobre seus fundamentos para pensar a série que ora exibe como parte do programa Caixa de Pandora, em que artistas contemporâneos desenvolvem projetos em diálogo com a coleção Ivani e Jorge Yunes. O que faz essa referência à natureza morta ressaltar nas obras apresentadas por Pjota é que os ecos da história da arte estão misturados a outras incontáveis menções, num vocabulário que perpassa desenhos infantis, anúncios de publicidade, logomarcas, tipografia popular, inscrições urbanas.

Projeto Caixa de Pandora, 2019 © Everton Ballardin
Para produzir as dez pinturas e a instalação que compõem sua mostra, o artista deambulou livremente pelas diversas salas e reservas que acolhem a vastíssima coleção de coleções dos Yunes. Dali selecionou um conjunto de vasos que foram usados como elementos centrais para a composição de cada obra. As origens diversas dos objetos e as datações que variam na medida dos séculos importam apenas como referência lateral, indicadas no subtítulo das pinturas e denotadas pela frouxidão de categorias tais como “oriente”, ou “regiões de conflito”. A despeito da representação imagética acurada, as distintas escalas entre os objetos perdem-se na reprodução, o que faz com que um diminuto vaso de vidro colorido seja posto em cena como um receptáculo de flores, por exemplo. Segundo o artista, o que liga todas essas peças, apesar das diferenças entre elas, é sua capacidade de serem confundidas com objetos ordinários, como os que enchem os containers que chegam diariamente em todas as partes do mundo e inundam os mercados populares com seus selos made in China. Se cada um dos vasos escolhidos mantém sua importância de objeto pela capacidade de sintetizarem poder e valor, estes são desafiados por um gesto artístico que nega sua autoridade.

Projeto Caixa de Pandora, 2019 © Everton Ballardin
Deslocadas das paredes e apoiadas em estruturas autoportantes, as pinturas reivindicam sua autonomia do contexto, ainda que comentem diretamente seu entorno. Tapetes e vasos são escolhidos por Pjota para dialogarem com as cenas retratadas nas obras. Às vezes de maneira mimética, outras vezes emulando sutis diferenças, os objetos que se postam para além da bidimensionalidade das telas complexificam as escolhas formais e produzem miradas que se multiplicam a partir da disposição do visitante de criar suas próprias composições com os planos arquitetônicos. A série de pinturas Smiles, ao inserir em cada tela um sorriso de iconografias pops e criar com isso faces bem-humoradas, sublinha a presença dos trabalhos como personagens anárquicos que fagocitam suas referências na forma de crítica ou ironia sem, no entanto, deixar de homenageá-las.
Ao intitular a mostra de Cenas de casa, Pjota faz questionar, ainda, de que casa estamos tratando e para quem. Há na sua produção uma tensão recorrente entre os ambientes privados e os espaços públicos, algo que se declara também na desierarquização absoluta entre ícones da suposta “alta cultura” e manifestações “populares”, ou na fusão entre a instância aurática da entidade artística erudita e a qualidade de mera diluição do produto para consumo de massa. A rua é, na sua linguagem, o lugar onde as idiossincrasias da diferença tomam lugar. De lá vêm as palavras de ordem que, num gesto de insubordinação e urgência inscrevem-se nos muros, nas portas, nas faixas, e que são transportadas para suas obras. É também desse espaço coletivo que surgem elementos quase sempre despercebidos por seu caráter ordinário, como os adesivos dispostos em cartelas em bancas de jornal, o barrado de um sinal gráfico, a ilustração do pano de prato que é vendido nos sinais de trânsito, o código da pichação, as várias camadas de tinta que limpam as fachadas, escondem histórias, e buscam um ordenamento que quase sempre ressoa à higienização.

Projeto Caixa de Pandora, 2019 © Everton Ballardin
No jardim, esculturas foram deslocadas para o centro do gramado e parecem dialogar com vasos de cactos cuja aspereza visual contrasta com o paisagismo da casa. Como espécies invasoras, as plantas trazem em seus caules gravações de nomes, frases e grafismos que marcam a não-conformidade com os códigos sociais das linguagens artísticas hegemônicas. A depender da perspectiva, esses universos de referências podem parecer imiscíveis em seus antagonismos estruturais, ou comutáveis pelas diferenças que fundam toda e qualquer existência baseada na alteridade.

Projeto Caixa de Pandora, 2019 © Everton Ballardin
Sobre o artista
Paulo Nimer Pjota (São José do Rio Preto, 1988). Vive e trabalha em São Paulo.
Suas exposições individuais recentes incluem The history in repeat mode — image, Mendes Wood DM, Bruxelas (2017), The history in repeat mode — symbol, Maureen Paley / Morena di Luna, Hove (2017); Paulo Nimer Pjota, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2012). Suas obras também foram incluídas em mostras coletivas institucionais como Painting |or| Not, The KaviarFactory, Lofoten, Noruega (2017); Soft Power, Kunsthal KAdE, Amersfoort (2016); 19º Sesc_Videobrasil, São Paulo (2015); Here There, Qatar Museums – Al Riwaq, Doha (2015); Imagine Brazil, Astrup Feranley Museet, Oslo (2013) / DHC/Art Foundation for Contemporary, Montreal (2015); 12 Biennale de Lyon, Lyon (2013).
Paulo Nimer Pjota (São José do Rio Preto, 1988). Vive e trabalha em São Paulo.
Suas exposições individuais recentes incluem The history in repeat mode — image, Mendes Wood DM, Bruxelas (2017), The history in repeat mode — symbol, Maureen Paley / Morena di Luna, Hove (2017); Paulo Nimer Pjota, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2012). Suas obras também foram incluídas em mostras coletivas institucionais como Painting |or| Not, The KaviarFactory, Lofoten, Noruega (2017); Soft Power, Kunsthal KAdE, Amersfoort (2016); 19º Sesc_Videobrasil, São Paulo (2015); Here There, Qatar Museums – Al Riwaq, Doha (2015); Imagine Brazil, Astrup Feranley Museet, Oslo (2013) / DHC/Art Foundation for Contemporary, Montreal (2015); 12 Biennale de Lyon, Lyon (2013).
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